Será que “O Progresso” chega aos 77 anos?

                 O Jornal O Progresso está entrando em seu 64º ano de existência. Não conheci o seu fundador, Weimar Torres, mas acompanho esse diário há 40 anos, sendo que o meu primeiro encontro com Wlademiro do Amaral foi no início de dezembro de 1974. As professoras Telma Vale Loro, Ariadne Fittippaldi Gonçalves e eu havíamos criado o TUD – Teatro Universitário de Dourados – em agosto, e estrearíamos a peça “O Jumento e o Capataz,” em 20 de dezembro. Queríamos que o jornal anunciasse esse evento. Seu Amaral perguntou-me se a renda seria revertida para alguma instituição, mas convencido de que o grupo não visava o lucro, concordou em anunciar o espetáculo.

Não tenho os recortes desses anúncios arquivados, mas agora que a UFGD está digitalizando toda a coleção do jornal, poderei procurá-los. Brincadeiras à parte, na verdade fico imaginando o interesse dos cientistas, principalmente os sociais e de humanidades em destrinçar todas as páginas, anúncios, colunas de toda a coleção para as suas pesquisas. Com certeza, serão estudados e avaliados também os editorias do jornal e as crônicas de colaboradores. Haverá comparações com outras fontes. Os relesses encaminhados por prefeituras, anunciantes e políticos serão dimensionados. A linha editorial, o formato, as transformações sofridas ao longo de mais de seis décadas de existência serão alvo de críticas minuciosas e contundentes (críticas no sentido de avaliação profunda).

Com toda a certeza será observado que O Progresso, assim como centenas de jornais brasileiros, é empresa familiar e como tal, traz em si algumas características comuns: via de regra esses jornais são criados por famílias tradicionalmente ricas e/ou por novos ricos que bem assimilaram a ideologia de classe dominante e procuraram reproduzi-la, o que não foi difícil no início, pois os seus leitores, 60 anos atrás, eram em grande maioria ligados ideologicamente à direita.

Com o passar do tempo, o pensamento de esquerda foi ganhando espaço e os jornais similares ao “O Progresso” tiveram que optar entre abrir espaços para novas ideias ou enclausurarem-se até tornarem-se reacionários.

Quer me parecer que, não obstante “O Progresso” manter ainda uma linha editorial e colunistas mais à direita, a sua tendência é a de uma abertura, de tal forma que haja espaço também para escritores de esquerda, como é o meu caso que há muito tempo publico crônicas contundentes contra a exploração capitalista, contra as privatizações e em defesa de um mundo mais justo, mais solidário e mais igual.

Abrindo ainda mais os seus espaços para novos temas, a exemplo do editorial de ontem, que critica os astronômicos lucros bancários, talvez “O Progresso” possa conquistar um público maior.

Os donos de jornais evidentemente têm o direito a uma ideologia, a um partido político e não vejo mal nenhum em que defendam abertamente os seus candidatos, mas diante de tanta pluralidade, de tanta diversidade, penso que “O Progresso” somente chegara aos 77 anos se ele também diversificar.

Chegará aos 77 e muito mais, entretanto, se dermos crédito ao site Future Exploration Network, “O Progresso” não será mais em papel impresso. Segundo esse site os jornais impressos serão extintos, em primeiro lugar nos Estados Unidos, em 2017; na Inglaterra em 2019; no Canadá em 2020 e no Brasil em 2027.

Não obstante a recente nova formatação do jornal ser muito boa e facilitar a leitura e não descartando novas atualizações, penso que os prognósticos acima serão realizados em tempo ainda menor. Os jornais não serão mais apanhados nas primeiras horas da manhã e lidos enquanto se prepara o desjejum, as pessoas antes mesmo de chegarem à cozinha já terão aberto os seus tabletes, celulares, ou algo ainda mais moderno, e lerão manchetes e notícias curtas. Editorialistas e cronistas terão que aprimorar a capacidade de síntese e dizer em um parágrafo o que antigamente se dizia em um livro.

Mas, enfim, ao parabenizar Dona Adiles, June e Blanche pelos 64 anos do Jornal vale lembrar a sua primeira manchete: Vertiginosa: A marcha de Dourados para o progresso". e, como palpite e água benta não fazem mal, lembrar que vertiginosa também é a corrida contra o tempo: é hora de se vender assinaturas on-line do mesmo conteúdo do jornal impresso e por que não a TV O Progresso?  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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